O cravo

Foi depois do banho. Me enxuguei, fiz a barba ainda nu, cortei as unhas e quando fui colocar a cueca foi que vi o cravo. Não no rosto barbeado. Mas lá, mais embaixo. No, digamos, pênis. Observei bem, não era uma pinta que iria nascer assim de repente. Era um cravo. Do duro. Lá.

Tentei espremer, mas as unhas estavam curtas, tentei apenas com os dedos. Doía. Tirar um cravo dali dói pra caceta, se me perdoa a comparação.

E agora?

Pensei na santa Rosinha uma senhora que me faz limpeza de pele. Mas não podia chegar pra ela e apresentar esse cravo assim sem mais nem menos. Nem com luva ela iria fazer o trabalho. Estou sem namorada. E um compromissor compromisso para o sábado com a minha distinta professora de inglês. Também não. E se ela chega ali no pedaço e vê o danado lá? Vai me desculpar, mas não chupo pau com cravo!

Nessa hora os amigos não contam. Você espremeria o cravo do pau de um amigo? Jamais! Como fazer? Vou ter que esperar a unha crescer de novo. Mas e a professora de inglês? Até lá ele deve ter crescido mais ainda. Impossível não ver. Na parte de cima do corpo do supracitado. Visível aqui de cima.

Nesta noite não dormi. De manhã, ainda na cama, fui me certificar. Poderia ter sido um sonho. Nada. Era real. E parecia estar maior. Tentei com os dedos. Apenas dor. Muito sensível a região.

Tenho um primo que é candidato a Reitor da federal aqui da ilha. Marquei um jantar. Depois de muitos vinhos, contei a situação para ele. Homem das ciências, encararia meu problema como cientista, pesquisador.

– Tá me contado isso por quê? Você não vai querer me dizer…

– Com luvas…

– Tá louco! Se alguém sabe disso na universidade, perco a eleição. O adversário vai logo dizer: vocês querem para Reitor um sujeito que pega no sexo dos outros?

Pedi mais uma garrafa de vinho.

– Vamos ali no banheiro.

– Para com isso, primo! E a minha mulher, o que ela vai pensar?

– Só quero te mostrar.

– Não quero nem ver!!!

– Uma coisinha de nada… Eu trouxe as luvas, olha.

– Disfarça, disfarça…

Silêncio.

– É na cabeça?

Opa!

– Imagina! No corpo, quase perto da barriga. Praticamente na barriga.

Ele pensa:

– Não espremeria nem se fosse no rosto. Tá se esquecendo que a gente é mineiro, ainda por cima? Mineiro que é mineiro não sai pegando no pau dos outros, não. Pega uma puta, pronto.

– E você acha que alguma puta do mundo ia sair por aí espremendo pau de homem? Ainda ia me achar viado.

– É primo, você está com um problema.

– Eu sei, caralho! Eu sei!

Dispensei a professora de inglês, do restaurante mesmo.

As minhas unhas estão crescendo. Lentamente, muito lentamente. Parece que elas sabem.