Quando o computador foi inventado em 1946 – aliás, eu também fui inventado em 46 – pesava 14 toneladas. Imagine o tamanho. E não se chamava computador. O nome da engenhoca era cérebro eletrônico. Era um invento assustador. Ficava dentro de uma espécie de armazém, tinha rolos de fitas imensos, fazia um barulho danado. Parecia um monstro. Mas os inventores foram logo acalmando as pessoas (a guerra havia acabado há um ano): até o final do século, teremos computadores que pesarão apenas uma tonelada.
Pois o século terminou e hoje ele pesa três quilinhos. E passou a se chamar micro. E continua emagrecendo. E, ao contrário do que previa o Gilberto Gil em 69, na música Cérebro Eletrônico, ele já fala. Não só fala como às vezes duvida de você e – acintosamente – pergunta: você tem certeza que quer fazer isso ou aquilo?
Uns vinte anos depois, lá pelos anos 60, na África do Sul, um tal de doutor Barnard fez o primeiro transplante de coração. Tirou de um sujeito e colocou em outro. O cara não viveu muito tempo, não. Mas a coisa foi evoluindo e, hoje, qualquer clínica ali na esquina tá fazendo transplante baratinho, baratinho. Transplantam tudo hoje em dia. Menos a inteligência e a alma (se é que existe mesmo). A miss Brasil do ano passado tinha feito 19 operações plásticas. Assim, até eu, minha senhora. E agora começaram a transplantar com órgãos artificiais. Matéria plástica, que coisa elástica, que coisa drástica, como já reclamavam o Ari Toledo e o Carlinhos Lyra nos mesmos anos 60, numa música chamada Subdesenvolvido.
E você deve estar perguntando: onde é que este cara quer chegar?
Quero chegar no chip. Que, segundo o Houaiss, é uma pequena lâmina miniaturizada (em geral de silício), usada na construção de transistores, díodos ou outros semicondutores, capaz de realizar diversas funções mais ou menos complexas. Estão colocando chips dentro do nosso corpo. Ou seja, pedaços de computadores, nacos de cérebros eletrônicos.
Ou seja, talvez até o final deste século (ou menos, muito menos) a gente não vai mais precisar dos computadores. Nós vamos ser um computador ambulante. Será que ainda vamos estar com mania de querermos ser computadores do primeiro mundo? Os americanos terão mais bits que os sul-americanos? O homem-computador do Iraque será desligado das tomadas e das pilhas? A bateria vai acabar ou seremos, finalmente, imortais?