Na pracinha

Lembra no interior, de noite, na pracinha? O footing? Os rapazes num círculo maior, observando, as meninas rodando por dentro. Pouco a pouco os contatos, a paquera, o namoro.

Pois a pracinha voltou. E voltou toda cibernética, quem diria.

Eu sempre achei esse negócio de chat, da Internet, muito chato. Não apenas pela facilidade etimológica do trocadilho. Mas entrar lá, aquelas pessoas desconhecidas. Podem ser agressivas. Falta do que fazer. Perda de tempo.

Até que descobri que ir a um chat é exatamente igual a ir à pracinha da cidade. Sem tirar nem pôr. Ou seja, é bom. E pior: vicia.

Mas tem os seus macetes. Como tinha ir à pracinha no meu tempo de adolescente. Tinha o jeitão de parar, de olhar, o momento certo do olhar, do ataque. No chat é exatamente igual. Você chega como quem chega na pracinha. Ou seja, como quem não quer nada.

Como se você tivesse caído ali por acaso.

E você fica olhando, observando quem está ali na praça. Você não vê as pessoas. Você lê as pessoas. É mais ou menos parecido. Aquela garota com aquele decote convidativo podia te pegar do mesmo jeito que uma vírgula bem colocada ou uma subliminar interrogação num chat pode chamar a sua atenção.

Um adjetivo bem usado pode parecer um requebro gostoso, tentador. De repente, um simples três pontinhos pode ter o mesmo significado de um lenço que cai aos seus pés.

Portanto, chega-se, como nas pracinhas, na moita. Chega ali de anônimo. E fica observando o movimento. Você ainda não precisa falar. Você pode sorrir para alguém da praça. E se, na volta seguinte, ela também sorrir para você, a coisa tá boa. r.

Aí você começa a seguir a mina. Passa por uma coisa assim ó, :). Significa q tá td bem. Vê com quem ela anda conversando e, principalmente, qual é o papo. Mas fique atento porque se ela sumir sem sair da pracinha é porque ela está com alguém no reservado. E lá no reservadamente jamais saberemos o que rola entre eles.

Mas se ela passar de novo e flertar com você, já é meio caminho andado.

Fique atento para ver se ela não anda sorrindo para mais ninguém na praça.

Pronto, é a hora de paquerar com. Não tenha pressa, ela está ali. Chegue devagar e murmure para ela um oi.

Se ela responder, vá com calma. Não é hora ainda de ir para o reservado.

Pergunta para ela e responda para ela algumas coisas. Dialogue.

Passem a conversar só os dois. Ignorar todos os demais. Fique ali, dando passos pela pracinha. Veja como ela escreve aki. Sinta como ela diz naum (e não é o Alves de Souza) no lugar de não.

E, se por acaso ela perguntar:

– Quer tc comigo?

Não vá pensando logo em sacanagem. Tá blz, mas calma. O q ela quer é teclar com você.

E quando diz q qr tc com você, e diz isso sorrindo para você, é pq já tá no pto. Pode levar para o reservado.

O reservado é bom pq ninguém sabe o q está rolando entre vc e a mina e a gente vê tudo q tá rolando na pracinha. A gente continua lendo os outros.

Mas ninguém nos lê. Mas pode ter certeza q se vc ficar muito tempo reservadamente, lá na pracinha vão começar as fofocas: alguém logo vai perceber q vc n está ali. Nem ela. E aí começa a tricotagem. Vai todo mundo para outros reservados, comentar sobre o seu reservado.

É hora de voltar. Volte com calma, sem comer nenhum plural, com os gerúndios nos lugares. Acerta as vírgulas e as exclamações da moça para não darem bandeira.

Ajeite o cabelo, limpe o batom da gola da camisa e vai dormir sonhando com uma tal de Flavinha, uma Frau, uma Liliquinha, uma Beezinha, uma Carmina, uma Lena, uma Vera, uma Christie Angel, uma Crisbonna, uma Krika, uma Beth, uma Lubru, uma Ingrid, uma Marina, uma Marcela, uma Carol, uma Catarina, uma Larissa, uma Camille, uma Dra Bia, umas mulheres MisTriosas que deveras esviveram aki c/você.

Bjs e abs. Fui………………………..