As imagens e os sons ficaram perfeitos. Televisão, CD, DVD, receiver e as caixas de som todas. Convido amigos para a inauguração. Uma prima – sempre uma prima – faz o comentário: Precisa esconder aqueles fios. Pronto, arrasou com a minha parafernália. Mas ela tinha lá a sua razão. Atrás, saindo de todas as máquinas, o emaranhado de fios. No dia seguinte resolvi contar. Ali atrás, 22 fios saindo e entrando de buracos e tomadas. Preciso pensar em resolver o problema. Posso colocar uma madeira e pronto. Mas eu sempre saberei que eles estão lá. Todos.
Saio para a rua com os fios na cabeça. E começo a observar os postes. Você já percebeu a quantidade de fios que cada poste carrega? Pra mais de 20.
Aliás, se existe uma coisa antiga que ainda não resolvemos direito é o poste. O poste foi inventado em 1844 pelo americano Samuel Morse para levar o fio do seu telégrafo. Pois já se passaram quase dois séculos e eles continuam lá fora. Aí todo mundo aproveitou e foi metendo mais fios lá. Um horror!
O homem já chegou na Lua, já transplantou corações e amores, inventou o fax e até o telefone sem fio. Sem contar o leite condensado. Mas ainda não resolveu o problema dos fios. Aqui, diante dos meus pés, mais de 15 fios interligam toda a parafernália do computador. Basta desconectar um deles e a crônica não chega aí no Estadão.
Quando inventam alguma coisa sem fio é uma maravilha. O telefone sem fio, por exemplo. Para mim uma invenção tão importante como descer na Lua.
Pergunto: quando é que vão acabar com os fios? Duvido que em alguma universidade americana ou em algum porão lá do Irã alguém esteja sintonizado com isso. Algum universitário já se preocupou em fazer uma tese de doutorado sobre os fios? Algum candidato à Presidência da República colocou no seu programa de governo o definitivo fim dos fios? O rompimento com o fio? Nada!
O mundo continua a inventar absurdos e cada coisa com seu fio particular.
Eles disfarçam, fazem fios amarelos, vermelhos e brancos, mas continuam fios. Fios duplos e até triplos.
Não adiantam os controles remotos, os celulares, os telefones sem fio porque se você for prestar atenção, no fundo, todos eles têm o seu fio. Ou você carrega o seu celular sem um fio?
Conta a lenda que o saudoso Adolfo Bloch não permitia que a revista Manchete saísse com fotos de postes e fios. Dizem que ele mastigava os negativos das fotos onde tais elementos aparecessem. Um sábio, o seu Adolfo.
É, quanto mais evoluímos, dependemos mais dos fios. Haverá um dia que um grande curto-circuito vai acabar com tudo. Nada de bomba nuclear ou bomba de vírus. Bomba de fios! Jogam-se toneladas de fios em cima de Nova York e pronto. Todos se enforcam na correria.
Tudo bem, já avançamos um pouco. Os carros, por exemplo, não estão ligados a nenhuma tomada. Já imaginou você sair da sua garagem com um fio no escapamento? Já pensou num congestionamento de fios nas grandes marginais?
Mas não se iluda. Ainda vão colocar fios nos seres humanos, quando a gente estiver virando meio robôs. Cada um vai ser seu fio personalizado, seu cordão umbilical preso a alguma placa-mãe. Aí sim, estaremos todos com os rabos presos.
Portanto, meu amigo, quando for votar veja quem promete acabar com os fios. O fio amarra, prende e pode dar choque. Evite o curto-circuito do País. Vote conscientemente na urna eletrônica. Agora, com fios. Tá vendo?, antigamente as urnas não tinham fios. Agora são modernas, com fios. Será que dá para confiar?