Para mim foi legal trabalhar meu personagem, pois ele me proporcionou uma espécie de revisão da minha experiência de vida nos últimos 25 anos. BESAME MUCHO é uma tentativa bem sucedida de recuperar a experiência que a nossa geração viveu de 1960 até agora. Mais interessante do que apenas a recuperação, é a recuperação com humor. Com uma boa dose de ironia. De repente, eu me via dizendo coisas, fazendo coisas que tinha dito e feito na vida real. Era muito estimulante e divertido. Tudo era feito sob essa ótica de humor e ironia. Além dessa avaliação, dessa experiência de vida, o filme tem um carinho muito grande pelas pessoas, pela condição humana, que me agrada muito. O filme tenta descobrir porque os amigos se afastaram.
Quanto à minha parceira, quero dizer que não sou crítico, mas admirador de Glória Pires. Ela é uma atriz muito generosa e isso contamina a gente. Daí, tudo fica muito fácil, muito divertido. Para mim, que só tinha contato profissional com ela, a convivência em São Paulo me fez descobrir — além da atriz que eu já admirava—uma pessoa que eu admiro muito. Pela sua seriedade, empenho e, sobretudo, pela sua generosidade. Uma generosidade que vai além de qualquer espírito de competição, normal em todo ator.
Com relação à produção, pela primeira vez eu fiz um filme que começou no prazo, acabou antes e não matou ninguém de trabalho. As filmagens eram uma grande diversão. Tudo era feito com o mais absoluto rigor, mas nunca foi necessário fazer ordem unida. Trabalhei em BESAME MUCHO durante dois meses, com tempo para descansar, para me divertir. O melhor de tudo é que essa eficiência foi conseguida sem tensão de espécie alguma. Isso é raro. O Ramalho tem a capacidade de criar um ambiente onde a química do relacionamento se estabelece sem nenhum trauma. O prazer no trabalho foi constante. Jamais ouvi um grito ou percebi algum mau humor. Isso é fundamental, pois essas coisas acabam sendo impressas na película.