Depoimento de Antonio Fagundes, o Tuca do filme ‘Besame Mucho’

Antonio Fabundes, o Tuca, em ‘Besame Mucho’.

Conheço Ramalho há muito tempo. Acompanhei, meio de longe, a carreira dele. Fiquei muito contente quando ele me convidou para fazer BESAME MUCHO pois a gente já tinha prometido se cruzar. Li o roteiro, gostei e topei. O personagem é muito divertido. As situações em que ele se envolve — embora no início do filme ele esteja em uma crise violenta — são leves. Além disso, eu adoro comédia. Em cinema, até pelas suas características técnicas, a comédia exige do ator uma atenção muito grande ao tempo. Ele tem que saber o tempo total da situação cômica para não perdê-la nos cortes, pois às vezes a filmagem de uma seqüência leva dias. Na montagem, essa situação cômica torna a aparecer. Isso me fascina muito.

Também fiquei fascinado pelo Tuca, meu personagem. Eu o conheço, pois vivi as suas aventuras. Os bailinhos, a repressão sexual, o sarro no escurinho do cinema. Foi uma coincidência muito interessante.

Todo mundo na minha faixa de idade viveu isso. A Cuba-libre, o Hi-fi, o Ray Coniff. Essa é uma geração muito grande, pois o Brasil é um país jovem. A gente brincava muito a esse respeito durante as filmagens.

Eu adoro cinema, mas durante muito tempo ninguém me convidava. Eu faço teatro, novelas, e suponho que as pessoas pensassem que eu não tinha tempo para fazer um filme. De repente, começaram a perceber que eu sou um louco e, apesar de ser mesmo muito ocupado, não resisto a um convite se gosto do roteiro, da equipe e do diretor. A produção bem cuidada de BESAME MUCHO, o empenho do Ramalho e um elenco fantástico, contribuíram para que eu topasse fazer o filme. Depois de BESAME MUCHO, já fiz quatro filmes e vou começar o quinto.

Não fico parado, saboreando as minhas realizações, porque acho que realizado é quem já morreu. Tenho muitas ansiedades. Mas estou conseguindo resolver as minhas crises. A crise, e não a solução, é a coisa mais interessante que pode acontecer a uma pessoa. A solução de uma crise implica em você ter que descobrir uma outra, rapidinho. Tenho conseguido descobrir outras a tempo, e estou sempre caminhando para a solução dela e para a crise seguinte.