A grande maioria das pessoas usa o relógio no pulso esquerdo. Não é uma coisa assim tão normal e nem por estilo. É que até poucos anos atrás, tinha que se dar corda no relógio. A cada dois ou três dias, corda nele. Sim, se você não desse corda, ele simplesmente parava de funcionar. Tudo bem que era uma desculpa para chegar atrasado à aula e ao serviço… E, obviamente, a corda era dada com a mão direita. Os canhotos dançavam nessa porque, para dar corda com a esquerda (usando o relógio na direita), era mais do que complicado.
E quando o relógio ficava inútil, a gente dissecava o danado como se fosse um corpo vivo e arrancava a mola lá de dentro. Era um fio comprido que não servia pra nada, mas era bom tirar o coração daquilo que nos dava as horas.
Pois nesse tempo as canetas também eram enchidas. De tinta. Nem a Bic existia, imagina. Passava-se da caneta com pena, que a gente ia molhando no tinteiro à nossa frente, diretamente para a caneta-tinteiro. E a boa era a Parker. Quando a gente entrava para o ginásio, ganhava uma Parker 21. Entrando no colegial, já merecia uma Parker 51, que era simplesmente um luxo, como diria aquele lá. E encher uma caneta com a tinta Quick azul era um programa e tanto.
Naquele tempo, já dizia Jesus a seus discípulos, se montava o barbeador.
Função também complexa. E, depois, para se limpar, tinha que se desmontar tudo. Às vezes cortava-se o dedo, mas fazia parte do barbear.
Todos os remédios vinham em vidro (se caísse, quebrava) e depois de desatarraxar a tampa, ainda tinha um algodãozinho para ser tirado. Sei que ainda existem remédios assim, mas estão em franco desaparecimento. Hoje, eles vêm todos em tabletes e é preciso usar só o dedão para o remédio sair.
E, invariavelmente, cair no chão e sair rolando para debaixo da pia. Já tentou fazer a conta de quantas pílulas você já foi buscar lá embaixo?
Em compensação, os discos de vinil (aquelas pizzas pretas) vinham envolvidos por um plástico, mas não se tinha nenhuma dificuldade para tirar o disco lá de dentro. Hoje, para abrir um CD, demora-se mais ou menos o mesmo tempo de se ouvir todas as músicas lá de dentro. Quando é que vão resolver esse problema das embalagens dos CDs? É um dos grandes problemas atuais da humanidade.
Pois deviam embalar umas pessoas. Aí ficaria – todas as manhãs – aquele bando de assessores desembalando o Bush, e outros que andam soltos por aí.
Talvez quando os antigos embalsamavam seus compatriotas estivessem pensando na dificuldade que teríamos hoje para abrir aquilo tudo. E ainda encontrar alguns deles com um sorrisinho nos lábios. Seria genial se a gente conseguisse embalsamar algumas pessoas que vivem no nosso mundo de hoje e depois colocar dentro de uma caixa grande de CD. Tenho certeza de que ninguém iria ter tempo (nem vontade) para abrir.
Eu fico com medo da evolução da humanidade. Clonagem, por exemplo, saber tudo do bebê quando ele é apenas um feto de poucas semanas, e outras mexidas em DNA. Talvez no futuro a humanidade possa prever, já nessas primeiras semanas, o que o cara vai aprontar depois de grandinho e eliminar o mal pela raiz.
Não sei se isso seria um crime maior do que deixar tanta gente má nascer e matar.
Lembrando agora do Idi Amin Dada. Se você não sabe quem foi esse cara, sorte sua. Não precisa saber. É um desses que nunca deveriam ter nascido. Deveria ter nascido dentro de um CD com o Hino Nacional de Uganda tocando por séculos e séculos.