Não tenho certeza, mas acho que a revista Capricho existe desde a década de 50. Surgiu num momento em que o Civita resolveu investir no feminino e as revistas se chamavam Capricho, Ilusão e outras ilusões. Nas páginas finais, fotonovelas italianas em preto-e-branco. Eu tinha duas irmãs e fui me acostumando com os seus caprichos.
Anos depois começa a chegar a Capricho na minha casa, assinada pela Maria, minha filha, então adolescente, sem ao menos consultar os pais. Era a bíblia da geração dela. Passa mais uma década e eu continuo a ler a Capricho. Hoje, meu filho Antonio ocupa a última página da revista, logo ali, onde terminavam as fotonovelas.
Comprei o último número (Yasmin Brunet, de 14 anos, na capa) pela última página. Uma homenagem do Antonio à nossa amiga Joana, 23 anos, que morreu num acidente. E resolvi ler a revista toda. É uma delícia. A Capricho é hoje uma mistura de Veja com Caras, voltada para a meninada. E não tem papas na língua. Fala abertamente de tudo que o público quer saber. E por falar em língua e abertamente, a revista dedica algumas páginas ao beijo. Cinco.
Já na capa, a pergunta instigante: Dá para ver se o cara beija bem só de olhar para ele? Fomos testar. E testaram. Cinco páginas de teste.
Veja que maravilha. Pegaram sete gatinhos (a expressão não é minha, é da revista) entre 16 e 21 anos. Olha os sobrenomes: Pardini, Praz, Fletes, Pirozzi, Krobbe, Saad, Di Sarno e Falsarella. Pelos nomes, não foram testados os beijos lusitanos. Mas isso é de somenos importância.
Para testar os meninos, convocaram três gatinhas de currículo invejável. A Camila (20 anos) que já ficou com 50 meninos; a Fernanda (17 anos) que, apesar de mais nova, já ficou com 70, e a Regina, também de 17 anos, porém recordista: já ficou com 80! A gente encarou a situação com seriedade, não como uma farra na balada, explicou a Fernandinha.
Os critérios. Sim, os critérios. Onze itens: abertura dos lábios, gosto da boca, quanto ele é rápido para encaixar (este eu não entendi), flexibilidade dos lábios, inovação, sensação provocada, textura da língua, maleabilidade da língua, velocidade, ritmo e quantidade de saliva. Sem ironia nenhuma, coisa de gênio.
O tempo dos beijos variou de dois minutos e dois segundos a cinco minutos e vinte segundos. O que ganhou primeiro lugar, teve como ponto forte ser rápido para encaixar. O segundo lugar, como ponto fraco, a quantidade de saliva. Teve um que engolia a boca das meninas, às vezes. Ficou em quinto lugar. O último lugar ainda deu uma desculpa: Entrei em desvantagem porque estou com o braço quebrado, e fui o último. Tentei me garantir. Outra coisa, um menino e uma menina tinham piercing na língua. Dizem que levaram vantagem. Já um deles tinha aparelho nos dentes. Consta que atrapalhou.
E a coisa rolou num clima absolutamente higiênico. As meninas escovaram os dentes oito vezes. Os meninos, três. E entre um teste e outro, todos chupavam uvas para neutralizar o gosto da pasta de dentes. Genial!
Pois eu, que ando por aí beijando há mais de 40 anos, confesso que aprendi um pouco com a meninada. Só o negócio do encaixe que eu ainda não entendi muito bem. Até então, sempre achei que todos os beijos se encaixavam normalmente. Vou começar a prestar mais atenção neste item. Eu, que sempre achei que o negócio de encaixe era mais embaixo.
E tudo isto por quê? Porque na semana passada aconteceu o Dia Internacional do Beijo. Sabia disso? Claro que não. Recomendo que leve a vida com mais capricho e menos ilusão. Anota aí: o dia internacional do beijo é 13 de abril. No ano que vem capriche! Encaixe!