As unhas

As unhas, como todo homo sapiens sabe, vêm das garras de nossos avós macacos. Parece-me que foi o que restou, além do cóccix, também conhecido como uropígio ou sobrecu (sem acento, pois o assento é mais abaixo).

Foram-se os anéis e ficaram as unhas. E qual é a função da unha hoje em dia? O corte. Só existem – como os cabelos – para serem cortadas. As moças, além de cortar, pintam, colorem e posam.

Cortar a unha requer certo engenho e alguma arte. Não me lembro da primeira vez que cortei a unha sozinho. Mas devo ter feito algum estrago. Não existia o Trim e foi na tesourinha mesmo. Creio ter me dado muito mal, pois passei a roer até já ter uns trinta anos de idade quando alguém me disse que roer unha significava insatisfação sexual. Parei imediatamente, o que não fez minha performance sexual melhorar, mas deu-me o trabalho de ter que cortá-la algumas vezes por mês.

Eu tenho uma amiga (já avó) que rói até hoje. Das mãos e dos pés. A dos pés, com o passar dos anos e dos quilos, passou a ficar difícil. O que fez ela? Cortava com a tesourinha e armazenava numa bela caixinha de prata, revestida internamente por reluzente veludo grená. Dava vontade, ela ia à caixinha. E ai de quem mexesse naquilo.

Mineiro e macho, nunca fiz as unhas dos pés. Até que um dia, num spa, um gay saiu da podóloga com os pés perfeitos e orgulhosos de si mesmo. Dei uma olhada e o pé da bicha estava mesmo muito interessante.

No cair da tarde, ninguém vendo, preparei a cabeça e fui lá e fiz o pé. Adorei. A podóloga (este nome excita) perguntou se eu não queria fazer as mãos. Aí seria demais para a minha virilidade.

Mas agora morando numa ilha – e como ninguém me conhece – resolvi fazer as unhas das mãos. Mas sem pintar. Coisa simples, rápida. Sabe que ficou legal? Me senti meio viado só uns dez minutos. Jurei que seria aquela a única vez. Mas elas estão crescendo e eu estou titubeando.

Tudo culpa dos macacos.

Em compensação o meu cóccix ninguém tasca. Um negócio que também se chama sobrecu é para ser tratado com um certo respeito. Os macacos que me perdoem. Sou um homo sapiens.

Afinal, a mesma língua que nos chama de homo sapiens, sentencia:

Homo est animal bipes ratiomale.

Ou seja, o homem é um animal bípede dotado de razão.

Ou ainda:

Te hominem esse memento!

Lembra-te que és homem!