Meu personagem é aquele cara que, no interior, é considerado um pouco mais avançado pelos amigos. Ele é amigo dos dois personagens principais, mas está sempre um pouco na frente deles. No comportamento, nos hábitos. Ele tem coragem de ser um pouquinho diferente lá, na sua cidade. Mas não sai do interior. Sua coragem não dá para isso.
BESAME MUCHO me atraiu porque eu passei a minha adolescência e juventude numa cidade do interior. Assim, conheço o mundo retratado no filme. As coisas são muito parecidas na sua simplicidade, no padrão de comportamento das pessoas. Isso já me deu uma grande simpatia pelo trabalho.
Além disso, eu tinha gostado muito da peça, pela sua forma dramatúrgica e pela delicadeza com a qual Mario Prata trata os personagens. Também achei ótimo que o filme não queira ditar nenhuma regra.
Por fim, há também a delicadeza e o afeto do Ramalho, um diretor que também sacou o tema, porque também viveu o período retratado. Mais ainda, a produção foi belíssima, cuidada e feita com muito carinho. O clima nas filmagens sempre era ótimo.
Pessoalmente, eu gosto muito dos anos 60. Foi um período muito fértil. Hoje o sonho acabou. Algumas pessoas conseguem refazê-lo, outras encaram a realidade. No fundo, porém, a época não importa. O que se discute no filme é a possibilidade de relacionamento entre os seres humanos.