Fábrica de Chocolate é um desafio para todos. É um desafio porque nos obriga a encarar frontalmente um tema que até há bem pouco tempo era tabu em letra de forma e se falava apenas a meia voz, olhando em volta pelo canto do olho: a tortura.
Um fato oficialmente desmentido e que ironicamente às vezes se comprovava, praticado por aqueles que o negaram, naqueles que afirmavam a sua existência. É um desafio sob o ponto de vista da dramaturgia, porque o autor, recusando a emoção que poderia criar a partir da condição da vítima — emoção amplamente justificada — optou por aprofundar a sua perplexidade, buscando entender os valores e a mecânica daqueles que exercem essa função degradante. Quando um homem se avilta, aviltando um outro homem, todos nós somos esses dois homens. E para recusarmos essas duas faces, para cunharmos uma nova moeda, Mario Prata procurou compreender e mostrar o lado mais infamante. O lado dos torturadores. O torturador é um resultado, não um ponto de partida.”
Ruy Guerra