Imprensa
- Mario Prata escreve livro ao vivo na web (Estadão, 29/05/2000)
- Le spectacle de l’écriture en direct (Libération, 01/07/2000)
- O livro sem papel – Folhetim reinventado (VEJA, 08/2000)
- Mario Prata lança hoje comédia policial virtual (Estadão, 31/10/2000)
- Mario Prata faz rir com histórias de detetive (Estadão, 06/01/2001)
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Sinopse
Ozanan Badaró é um ginecologista, discreto e competente, que um dia receberá um convite absolutamente inusitado. Será que ele não aceitaria catalogar, provar e treinar, digamos assim, garotas de programa? Ele aceita, acreditando que finalmente um belo trabalho caiu do céu. Assim a vida deste médico muda por completo. Assim nascem os anjos do Badaró. Bem, você pode imaginar em que mundo nosso ginecologista mergulhou. Luxúria e traição. Prazer e violência. Sexo e morte. O mundo fascinante e perigoso das garotas de programa mais sofisticadas da cidade. Badaró é um homem experiente, mas não ficará imune aos apelos desta nova vida. E ele se envolve, e se apaixona, e enriquece tanto, que um dia alguém vai querer matá-lo. Quem teria interesse em assassinar Ozanan Badaró?
O mistério da morte de Badaró é o leitmotiv dessa comédia rasgada. Os anjos de Badaró revela o humor que só as melhores novelas policiais conseguem ter. Ágil e original, esse livro foi escrito ao longo de seis meses, pela Internet. A cada dia, o autor escrevia um capítulo e lia sugestões on-line de leitores ávidos e virtuais. A novela pós-eletrônica foi acompanhada por milhares de pessoas, diariamente – letra a letra, palavra a palavra, corte a corte, morte a morte. Os anjos de Badaró, o livro, apresenta a versão final e bem acabada desta experiência pioneira. Para seu deleite particular. Conheça os anjos. Decifre Badaró.
Navegando com os anjos
Em janeiro. Toca o telefone, era a Selma Santa Cruz, jornalista, companheira de outras viagens. Me convida para escrever crônicas numa revista feminina, via Internet, num portal. Começo a freqüentar a Internet. E logo percebo que o que estou fazendo escrevendo as tais crônicas é a mesma coisa que já fazia para o Estadão. Digitava aqui, mandava por e-mail. Depois percorria várias teclas até chegar lá no fundo do portal e achar a minha crônica. Nenhuma novidade.
Num almoço com a Selma (sócia da TV1.com), no Spot, comento com ela sobre a passividade das homepages. Podiam ser bonitas, mas no dia seguinte estavam do mesmo jeito. Foi quando ela pronunciou uma palavrinha mágica que ficou navegando na minha cabeça: site vivo! Nem ela, nem eu, tínhamos idéia – naquele momento – do que seria um site vivo.
Começo de fevereiro. Estou começando a me organizar para escrever meu livro Os Anjos de Badaró, para a Editora Objetiva. Por pura coincidência, um crime enrolado com disquetes, micros, sites. Recebo alguns e-mails de leitores do Estadão, pessoas que querem ser escritores, me perguntando coisas: escritor tem inspiração? tem musa? só escreve bêbado? morre tuberculoso? é viado?
10 de fevereiro: minha namorada, a Cris Bonna, faz uma reunião na casa dela para comemorar o meu aniversário no dia seguinte. 11 de fevereiro, 05:00hs: bateu: escrever o Badaró online. Isso, uns dois minutos depois da irmã da Cris perguntar se poderia vir um dia na minha casa para me ver escrevendo.
12 de fevereiro, de manhã: chamo o Cachorrão aqui em casa. O Cachorrão é um craque na coisa. O nome dele era Wagner Belicimo Homem. Depois mudaria para Beto Samara. Conto para ele a idéia. Pergunto se é possível. Pela cara dele, comecei a achar que aquela coisa era inédita.
– Dá, mas temos que arranjar um sócio. Uma produtora. Contei para o Antonio, meu filho, da idéia. Convidei para entrar com a gente no projeto. Ele topou.
14 de fevereiro: eu e Cachorrão, Selma e Sérgio Morta Mello numa mesa. Contamos o projeto. É chamado um cara que entendia. Dava para fazer a ferramenta.
Nos dois dias seguintes o Sérgio vende o projeto para o Terra. Minha vida nunca mais seria a mesma.
Os contratos. Teve um dia que eu estava numa sala com seis senhores engravatados discutindo cláusulas de um contrato tão inédito quanto o seu (desculpem o palavrão) conteúdo. E tudo que eu queria era apenas escrever um livro. Um policial. Os meninos da TV1.com fizeram a tal ferramenta. Esta, que estou usando agora. Uma mágica.
Dia 24 de maio, entro no ar, nervoso, de manhã, cara de sono, fiz a barba, passei um pente no cabelo e me regulando para não enfiar o dedo no nariz. Do lado de lá, soube depois, 15.798 loucos, estavam plugados em mim. Internautas de mais de 50 países. Só do Japão, 98. Estados Unidos, mais de quatrocentos. Tudo brasileiro, é claro.
Ao final do processo, seis meses depois, mais de 400 mil pessoas passaram pelo sete. Quase 800 mil palpites.
No meio do caminho não tinha nenhuma pedra. Tinha uns anjos. Não os meus ou do Badaró. Outros anjos. Meus também. Anjos que chegaram devagar, de mansinho, me chamando de Deus, Guru ou Homi. Pouco a pouco, foram vendo que o deus era com letra bem minúscula, que o Guru cortava cabelo a cada dois meses e que o Homi era igualzinho a eles.
E foi aí que a grande mágica se deu. Se esse cara pode escrever, eu também posso. E começaram a escrever. Mas que ousadia, pensei eu com minhas teclas. Pessoinhas de 16 a senhorinhas de 85. Fizemos um concurso de crônicas. 2.357 chegaram. E posso garantir que lemos todas. O Beto Samara (aliás Cachorrão, aliás Wagner Belicimo Homem), o Antonio Prata (aliás, meu filho) e eu (aliás, ex-Deus).
Sempre ouvia dizer de mães preocupadas: meu filho passa seis horas por dia na Internet. Pois eu descobri que, nessas seis horas, ele só tem duas opções: ler ou escrever. Nenhuma outra geração escreveu tanto quanto esta deste final de século. Estão pegando o gosto pela coisa. Estão percebendo que isso aqui não é um bicho de sete cabeças. Basta uma cabeça e uns dígitos. Uma nova geração de escritores brasileiros está nascendo.
Este livro é um documento.
Este livro mostra as 30 melhores crônicas deste concurso. Este livro, para mim, tem um significado literário muito, muito maior que o livro escrito online Os Anjos de Badaró (agora apenas nas boas casas do ramo).
Assim como eu me revelei para os meus leitores, eles se revelaram para mim. E se revelaram escrevendo como o velho mestre. E escrevendo bem. Escancaradamente bem. Uns, de arrepiar mesmo.
Tenho certeza que essa rapaziada que aqui está é a primeira mostra de que a Internet vai revelar muitos e muitos escritores. Guardem os nomes desses anjos que vocês vão ler agora. Talvez um dia você tope com um deles escrevendo online pela Internet.
E eu vou ficar do outro lado da tela, torcendo para ele enfiar o dedo no nariz.
E quero deixar aqui um agradecimento à turma de apoio: Sergio, Selma, Antony, Carlos, Trago, Daniel e Mario da TV1.com. Sandra, Caíque e Diego, do Terra, Antonio e Cachorrão.
Como tudo começou
Tudo começou com este verbete publicado no meu livro Minhas Mulheres e Meus Homens
Badaró, dentista
(São Paulo, 1993)
Não via o Badaró há uns vinte anos. Fizemos o primário juntos. Ele se formou em medicina e foi abrir clínica popular no Mato Grosso e sumiu da minha vida. Na minha lembrança, ficou que ele era meio tarado.
Encontrei com ele num bingo, semana passada. Todo de branco, como convém. Foi ele que me reconheceu. Saímos dali e fomos para o bar mais próximo onde ele me contou o seguinte:
– A minha mulher começou a transar com o delegado de Cáceres. Larguei tudo e vim pra São Paulo em 89. Tentei trabalhar com o Chicão, lembra? Fui morar num flat. Tinha muita menina, bem jovens, putinha, sabe? Coisa de nível. Boate Photô, já ouviu falar? Cada gatinha, meu! Foi quando eu conheci a Diana. A Diana é uma cafetina. Cafetina de alto nível. Agencia as meninas, entende? Conhece o mercado. E ela cismou comigo, gostava de transar comigo.
Minha vida nunca mais seria a mesma. Larguei a medicina. Virei Provador de Puta.
– Como é que é?
Quando as meninas são indicadas para a Diana, ela passa as meninas para mim. Tenho um outro apartamento no flat, pago pela Diana, que é onde a coisa funciona. Recebo como médico. Faço uma ficha, igual consultório mesmo. Além de toda a parte médica, tem a parte técnica. Há quanto tempo perdeu a virgindade, com quantos homens já transou, se tem algum problema, se faz sexo anal. Enfim, levanto a vida sexual da moça. Num segundo estágio, começam as aulas práticas.
Peço todos os exames de sangue, fezes e urina. Ao mesmo tempo, saio para jantar, ensino o uso dos talheres, como escolher um bom vinho, etc. Vestuário, perfume, tudo. Tudo pago pela Diana, é claro. Quando a menina tá no ponto, a Diana coloca no mercado.
– E a Diana te paga pra fazer isso? Comer essas gracinhas todas?
Deus existe, cara! Ganho duzentos por consulta. Dependendo do mês, dá pra tirar uns quinze paus.
E, por fora, negócio só meu, criei o CPF (Consórcio de Profissional Fina). O consorciado paga 300 paus por mês e tem direito – sem sorteio, hein! – a oito trepadas por mês. Pode ser com a mesma menina, ou avulso. Ou misto. É um ótimo negócio para o consorciado. Sai menos de trinta reais a vez. E damos garantia contra aids, gonorréia, etc.
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Badaró suicidou-se há alguns dias. Deixou alguns disquetes para Alcides Capella, velho jornalista policial, seu amigo do interior. Nestes disquetes, a ficha de 431 meninas de programas e participantes do consórcio do Badaró.
Capella é antigo como as iniciais do seu nome: A.C. É o único ainda a usar uma velha Remington no meio de uma redação repleta de computadores. Capella não evoluiu, Capella não venceu na vida. É quase um fracassado, jornalista de porta de delegacias e portão do Carandiru. Mas sabe muito do sub-mundo do crime de São Paulo, que será pano de fundo para seu trabalho.
Capella é gente que bebe.
Capella é casado com a gorda Cláudia, que gasta o pouco que ele ganha em spas.
Capella é – às vezes – ex-alcoólatra, vive em reuniões dos AA. O leitor acompanha sua luta contra a bebida. Suas recaídas. Infelizmente ele sabe que é alcoólatra, embora tenha sua lucidez de detetive e advogado formado em Bragança Paulista.
Capella tem que aprender a usar computador, aos 63 anos – o que chega a ser hilário – para ter acesso aos registros de Badaró. Principalmente depois de desconfiar que Badaró não se suicidou e sim, foi assassinado. E mais: que, nas fichas das meninas, Alcides encontrará as pistas para chegar ao criminoso. Ou criminosa.
A verdade é que Badaró ficara rico com o seu comércio ilegal. E sabia demais. Muita gente tinha interesse em apagá-lo.
Capella dedica-se, de corpo e alma, a desvendar tudo. Sonha, há mais de 40 anos, com o Prêmio Esso de Jornalismo. Jornalista meio fracassado, vê nessa empreitada a realização de todos os seus sonhos.
Em seu trabalho de detetive, Capella esbarrará em máfias de narcotráfico, prostituição, contrabando e assassinatos. Chegará aos altos escalões do poder.
Quem matou Ozanan Badaró?