Há alguns anos venho convivendo com umas gaivotas. E observando. E acho que elas também me observam. Hoje já consigo chegar bem mais perto delas. Devo estar me transformando num nativo aqui da ilha.
Elas são grandes e, em sua grande maioria, quase completamente brancas. Com as asas abertas devem ter um metro de largura. E voam. E planam. E são lindas, as gaivotas.
Ao contrário de outras aves grandes, como as galinhas e os patos, elas não andam pela praia com os filhotinhos as seguindo. Este foi o primeiro grande mistério que elas me trouxeram. Não vejo gaivota nem de tamanho médio. Elas já aparecem grandes. Mas em algum lugar devem estar os filhotes. Ou seriam todas elas centenárias?
Quando já estava mais do que curioso, outro dia, no final da tarde, vi uma revoada de gaivotinhas. Desci correndo para a praia, sentei numa pedra e fiquei olhando. Dezenas, centenas. Devia ser o primeiro voo. Do tamanho de um passarinho. Voavam ainda desordenadamente e como os pais e mães, quando viam um peixe, se transformavam numa seta e mergulhavam. Nenhuma conseguiu pegar nenhum. O mais interessante é que não havia nenhuma gaivota grande ensinando. Depois de meia hora elas sumiram. E nunca mais voltaram. Mas eu continuo de olho aqui da janela.
Quando chove forte, elas ficam todas na areia e – sabe-se lá porque – de costas para o mar. Todas, na mesma posição, imóveis, como um grande exército de chumbo. Ou seria de costas para o vento e a chuva? Não sei, não entendo nada de gaivotas.
Mas elas têm suas leis. Quando uma consegue um peixe muito grande, leva para a areia, segura o alimento com uma das patas e vai bicando até o peixe parar de se debater inutilmente. Mas as outras gaivotas já perceberam que aquilo é comida demais para uma só. Aterrissam e ficam atrás da primeira, educadamente, esperando a sua vez. Depois vai uma por uma, como se existisse uma fila predeterminada. São sábias as minhas gaivotas.
Outra pergunta: onde moram as gaivotas? Jamais saberemos. De noite elas somem. Onde dormem? Em árvores, em altos galhos? Com os filhos?
Como os bem-te-vis (e o Dadá Maravilha) elas também param no ar e não sei como não despencam lá de cima, matando o vento no peito estufado.
Também ao contrário das galinhas e patos e outras aves, o homem não come gaivota. Também não sei se há alguma lei que as protejam. Ou se a carne é dura ou dá dor de barriga.
Felizmente não comemos as gaivotas. Pelo menos por enquanto. Mas acho que ninguém teria coragem. Felizmente.
E, para você não dizer que eu não fiz um mínimo de pesquisa, veja o que encontrei no site Terravista, de Portugal:
O acasalamento e construção de ninhos decorrem a partir do início da Primavera. 0 casal de gaivotas necessita de cerca de 4m² de área mínima para colocação do ninho. As gaivotas são monogâmicas – acasalam para toda a vida.
Os jovens casais tendem a nidificar em zonas de baixa densidade, avançando para partes mais densas da colônia mais tarde. Cada macho da colônia ocupa e defende um território na ilha, geralmente o do ano anterior; os pares isolados por sua vez possuem territórios noutros locais, nomeadamente na praia. O ninho é construído no solo e contém uma grande quantidade de vegetação; 15 a 20 cm de diâmetro e 5 a 8 cm de profundidade, contribuem para a sua construção e defesa os dois membros do casal; a fêmea deposita nele os seus ovos para uma postura completa que é geralmente de 3 ovos. No período de incubação – cerca de um mês – o macho e a fêmea colaboram no choco (efetuado por turnos) e manutenção do ninho. As crias nascem quatro semanas após a incubação.
Ah, nidificar é formar ninho! Gaivota também é cultura…