No varal

– Seu Mario, tá precisando de prendedor de varal, pra roupa.

Seu Mario sou eu, que nunca comprei prendedor de varal. Nem sei onde vende.

E muito menos, quanto custa.

Dei um dinheiro e pedi para ela comprar e trazer no dia seguinte.

No dia seguinte vejo a novidade no varal segurando meias, cuecas e lençóis.

E me surpreendo com a novidade.

– Mas o que que é isso?

– Os prendedor…

– Mas de plástico? Prendedor de varal de plástico, Gorete?

A Gorete não estava me entendendo. Ela não entende muita coisa que eu falo.

– Qual o problema, seu Mario?

– Isso, aí, prendedor de varal, era o que havia sobrado da minha vida, da minha infância, Gorete. Depois que acabaram com o quebravento dos carros, me restava o prendedor, mulher! De madeira! Você está entendendo? O leite não vir em vidro, tudo bem, a laranjada já vir espremida, é até legal. Mas o prendedor de plástico, não! Mil vezes não!

Rosnei e fui para a sala. Não me conformava. Voltei de novo pra lá.

– Tire esse troço daí. A casa é minha, o varal é meu, a roupa lavada é minha. Portanto, joga essa porcaria no lixo e compra de madeira. De madeira, sem pintar, hein! Sem pintar!

– Onde?

– Não me traga problemas, traga-me soluções, falei como diria o Boni, da Globo.

Ele não entendeu a extensão da coisa.

– O senhor vai me desculpar, mas só vende de plástico. Faz muito tempo que eu não vejo de madeira. Tem mais, não.

– Tem, sim senhora. Em feira, tem.

– Nossa, seu Mario! O senhor hoje tá, hein!

E eu fico aqui, olhando para os prendedores de plástico (ainda estão lá, azuis, cor-de-rosa, verde piscina, um horror) que não têm o menor charme, não têm ainda história. Um mundo de plástico.