Ninguém dá bola para a bola. Não é como a roda. A roda entrou para a história no dia em que foi inventada. Existem civilizações que não conheceram a roda. Já pensou nisso? Se eu fizer aqui uma pesquisa rápida, é capaz até de se descobrir o século em que foi inventada essa coisa tão simples, banal. A roda e sua invenção entraram para a história. Tem tanta importância como a pedra lascada e o Vale do Silício lá na Califórnia.
E a bola? Quem foi que inventou a bola? Onde e pra quê? Invenção mais boba deve ter pensado um grego que passava por ali a caminho de uma sauna.
É impossível tentar entender o mundo sem a roda. Já pensou levar aquelas pedras todas lá no Egito para construir as pirâmides, se não tivesse a roda e sua consequente carrocinha? E aqui vai a primeira dúvida. Aquele bando de egípcios, entre uma roda e uma pedra e outra, não batiam uma bolinha? Não temos registro.
Mas tente, agora, entender o mundo sem a bola. E o esporte. Acho que fora o automobilismo, as lutas, a esgrima e o boxe, tudo gira em torno da bola. Mesmo que seja uma bola na trave.
Desde a de pingue-pongue até a de basquete (que me parece ser a maior), a bola é a bola e ninguém tasca. A bola com as mãos, com os pés, com a cabeça e até com umas raquetes dando porradas nela. Sempre a bola.
Outra coisa interessante é que a bola não evolui. Nasceu bola e é bola até hoje, ao contrário das rodas que hoje tem até com freio ABS. Tem até roda gigante. Tem até programa de televisão com nome dela: Roda Viva. Como se existisse uma roda morta.
Voltemos à bola. Me intriga isso: quem inventou a bola? E mais: pra quê? A bola de gude, por exemplo. Será que os soldados de Napoleão jogavam bolinha de gude em terreno cheio de neve? Será que a bola, quando foi inventada, já tinha ar dentro ou era compacta, inteira, de pedra, por exemplo, e era usada só para se jogar lá de cima do castelo na cabeça dos invasores, aqueles dos aríetes?
Tenho certeza que a bola não foi inventada diretamente para se bater um escanteio. Ou seja, o cara inventou o campo de futebol primeiro, a marquinha do escanteio e alguém disse: tem que colocar um troço aqui que, com um impulso vai lá para o outro lado, no segundo pau.
Depois um doido inventou uma bola pequena e durinha que uns brancos avermelhados ficam batendo com um taco para ela entrar dentro de um buraquinho. Será que o buraquinho foi inventado primeiro e alguém disse: temos que bolar um negócio para entrar aí dentro?
Sinuca, vôlei, basquete, tênis, futebol, pingue-pongue, handebol, rugby, futebol americano, beisebol, gude, queima, e tudo mais que você lembrar aí.
Eu comecei um parágrafo lá em cima, dizendo que tudo na vida evolui. Menos a bola. Tudo bem, umas eram de couro hoje são de outro material. Mas o jeitão é o de sempre. Tem até uma que é oval, bolação típica de americano que me parece que é para correr abraçado com ela. A de pingue-pongue, por exemplo, é a que mais me impressiona. Como é que colocam aquele ar lá dentro? Deve ser simples, coisa bem bolada, etc. Mas acho esquisito. Não evolui. Não tem bola quadrada, com pedaços saindo de lado, et cetera e tal.
Tem bolas com valores. A bola preta é a 7. A cor-de-rosa é a 6. Quem foi o cara que definiu e decidiu isso?
Ela não evolui, mas cria novas expressões. A bola da vez, por exemplo. De repente uma pessoa pode virar, da noite para o dia, a bola da vez.
Veja a importância da bola na nossa vida.
Bater bola. Bom da bola. Certo da bola. Comer a bola. Dar bola. Entrar com bola e tudo. Estar com a bola cheia. Pisar na bola. Ter bola de cristal. Trocar as bolas. Ruim da bola.
E ainda te dou a chance de dizer que esta crônica foi uma bola fora. Posso hoje não estar com essa bola toda, né, e ter perdido o rebolado?
O rebolado, por exemplo, que é essa coisa nacional, não teria esse nome se não fosse a bola. Seria estranho a mulata passar rebolando e alguém dizer: olha só que enquadramento, que piramidal, que paralelas.
Concluindo, a bola foi inventada em função do rebolado da mulher brasileira. Que, se quiser, pode até nos dar uma bola ao passar.