Nos anos 60, apesar dos Beatles, do feminismo, do Chacrinha, dos festivais da Record, do Cinema Novo, do Teatro de Arena, da minissaia e da pílula, do homem subindo ao espaço e descendo na lua, Elvis Presley, Cantinflas e Jonh Ford, Gordinis e a guerra no Vietnam, nos anos sessenta tinha o Baile de Debutante. Em todas as cidades do Brasil.
Era o segundo baile mais importante do clube. O primeiro, é claro, era o Réveillon. Ambos, a rigor, como convinha.
Não existia nada mais-mais do que a foto da debutante descendo a escada em curva dentro da sua casa. Sim, toda casa que tinha uma debutante tinha uma escada em curva, com corrimão e tudo que tinha direito. Se a senhora tem mais de 60 anos tem uma foto dessas aí no seu álbum. Sim, além da escada, tinha o álbum. O álbum com todos com quem a menina-moça (olha que palavra) havia dançado na mágica noite.
E as valsas. Eram três as valsas. A primeira – sempre – com o pai, mesmo porque naquela época todas as debutantes tinham o pai morando em casa. A segunda valsa com o namoradinho ciumento. E a terceira, com um tio, ou um irmão, ou mesmo um amigo. Cheguei a dançar uma segunda valsa com uma namorada e umas duas ou três com amigas. Mas nunca cheguei – e nem chegarei – a dançar a primeira valsa, a dos pais.
Pensando bem, acho que não seria mais capaz de dançar uma valsa como se dançava naquele tempo, ao som do Sylvio Mazzuca, rodopiando por todo o salão. Show!
Depois começaram a convidar – e pagar a preço de ouro – ator de novela para dançar as valsas com as nossas meninas. Sabia que aquilo não ia dar certo. Foi o começo do declínio. O mundo nunca mais seria o mesmo. Aquelas escadas em forma de curva perderiam seu charme e sua função.
Fico olhando as meninas que ganham os concursos para modelos. Treze, catorze anos. Será que elas sabem dançar uma valsa? Ou melhor, sabem o que é valsa? Que não é nenhum tempero?
Me lembrei disso tudo porque encontrei no fundo de uma gaveta uma poesia do meu eterno amigo de infância, o poeta Sergio Antunes que fazia as poesias para o presidente do clube dizer no momento solene do baile. Vejam a ternura, o romantismo da época. Devo lembrar que o Sergio tinha 14 anos quando cometeu esses versos. A mesma idade que a mexicana Consuelo Velasquez tinha – na mesma época – ao compor Besame Mucho. É, no fundo da minha gaveta tinha muita mais vida do que hoje nos palcos da moda.
Debutar
Debutar é ver menina bonita
deixar vestido de chita,
tirar do cabelo a fita.
vestir vestido encantado
de baile, todo enfeitado,
com as cores dos sonhos lindos.
E, em seus olhinhos, sorrindo,
vestir poesia inocente,
vestir poesia que sente
nos versos que o coração
da menina-flor botão
não é mais de uma qualquer.
Pois a noite debutante
transformou naquele instante
flor-menina em flor-mulher.