Sim, minha amiga, existem os amadores e os profissionais. E são facilmente reconhecidos. Pra começar, o profissional está sempre penteado. Despenteou, esteja certa de estar diante de um bêbado amador.
O amador é chato. E não tem exceção. Ele pode até não ser chato quando sóbrio. Mas passou de terceira dose, é dose.
Não sei como, mas o bêbado profissional nem hálito etílico exala. Pelo contrário, chega a ser até perfumado. Já o bafo do amador chega até mesmo antes dele. Pior que hálito de bêbado amador, só mesmo de bêbada amadora. É mesmo uma desgraça.
O profissional jamais – jamais! – bate em mulher. Pelo contrário, chega com fala mansa e diz palavras leves. Geralmente leva. Apareceu falando alto, te cuida, é amador.
O BP (vamos chamar assim o bêbado profissional) sempre chega em casa dirigindo sem bater. Não se lembra como, é claro, mas chega. O BA nem acha o carro. E nem se lembra no dia seguinte. Acorda tentando reconstituir a noite para saber em que gole ficou a viatura.
BP que se preza jamais fala no ouvido da gente e muito menos coloca a mão no ombro da pessoa a quem se dirige. Já o BA é especialista em ouvidos, ombros e – mais tarde – colos. Também costuma conversar segurando na sua mão, seja homem ou mulher.
Quando um deles vem chegando com aquele olhar de bebum, basta olhar nos sapatos. O do BP está limpo. Do BA está – inclusive – desamarrado.
No tempo em que eu bebia – e me considerava profissionalíssimo – um conhecido escritor e BP foi até a minha casa. Servi um uísque para nós dois e ele perguntou:
– Quantas garrafas você tem em casa?
Diante de tal pergunta imaginei que ele fosse mamar (BP odeia essa expressão) mais que uma.
– Mas essa está cheia!..
– Você é amador! – e deu uma golada e uma gargalhada. – Amador! E eu que te considerava um profissional…
Fiquei indignadamente sóbrio:
– Como amador??? Como???
– Meu querido, um profissional do álcool não tem apenas uma garrafa em casa.
– Bem, eu tenho mais uma guardada.
– Oito, meu filho, oito!!! Um bom bebedor tem que ter no mínimo oito garrafas em casa. E da mesma marca.
– Mas eu não bebo nem uma por dia…
Ele, se servindo de mais uma dose:
– Pois é aí que mora o perigo, a culpa! Veja essa garrafa. Você fica bebendo e vendo ela se esvaziar rapidamente. De manhã ela estava cheia, de tarde já pela metade. De noite vazia. Ou seja, você fica bebendo e vendo o quanto você bebeu! Dá culpa, você se sente um alcoólatra. Se fosse um profissional, teria uma aqui na mesinha, outra ao lado do computador, outra no criado-mudo, na cozinha, na sala de jantar, uma perto da biblioteca e até uma no quarto das crianças. Não é a garrafa que deve circular pela casa. E sim o copo. E você. Assim, meu querido amador, você não sente a garrafa se esvaziando em algumas horas, na sua cara, te dedando, te culpando. Cada uma que você pega estará sempre quase cheia. E não dá culpa. Pensando bem, você nem percebe que está de pilequinho. Me serve outra. Olha aí, já bebemos metade. Assim não é possível! Faça-me o favor!