Você também deve ter alguma palavra que aprendeu na infância, achava que tinha um certo significado e aquilo ficou impregnado na sua cabeça para sempre. Só anos depois veio a descobrir que a palavra não era bem aquela e nem significava aquilo. Um exemplo clássico é a frase hoje é domingo, pé de cachimbo. Na verdade não é pé de cachimbo, mas sim pede (do verbo pedir) cachimbo. Ou seja, pede paz, tranquilidade, moleza, pede uma cervejinha. E a gente sempre a imaginar um pé de cachimbo no quintal, todo florido, com cachimbos pendurados, soltando fumaça. E, assim, existem várias palavras. Por exemplo:
Álibi – Quando eu era garoto, tarado por filmes de bandido e mocinho e gibis, sempre achei que Álibi era o amigo do Mocinho. Claro, o Mocinho sempre tinha um Álibi e o bandido não. O Álibi, nos filmes, geralmente, era um velhinho. Mas resolvia.
Atalibálago – Essa é do escritor Fernando Moraes. Quando era garoto em Minas, viu um nome escrito com cal numa enorme pedra: Atalibálago. Adorou o nome, chegou a comentar com o pai e nunca esqueceu a esquisitice. Era pequeno, achava que era palavrão. Xingava as pessoas: seu atalibálago! Filho de uma atalibálaga! Só anos mais tarde, veio a descobrir que, na verdade, era um candidato a deputado que um dia acabou se elegendo e se chamava, na verdade, Ataliba Lago.
Margarida – Esta está na peça Apareceu a Margarida, do Roberto Athayde. A personagem (magistralmente interpretada por Marília Pêra e dirigida por Aderbal Freire-Filho) achava que o Hino Nacional tinha sido feito para sacanear ela: Do que a terra… Margarida…
Nabudonosor – Eu sempre achei que o babilônico Nabuco fosse de um país chamado Nosor. Era Nabuco do Nosor. Achava que devia ser na África, perto do Quênia, por ali. Hoje já sei que Nabuco é um bar na Villaboim.
Seu Penhor – O poeta Sergio Antunes me confessou outro dia que ele achava que o Seu Penhor (desta igualdade) fosse o ranzinza antigazeteiro do nosso grupo escolar, em Lins.
Sulfechando – Meu primo Hugo Prata um dia perguntou ao pai dele o que significava o verbo Sulfechar. O pai alegou que esse verbo não existia e teve que provar com dicionário e tudo. Como o garoto insistia em conjugar o verbo, o pai perguntou onde ele tinha ouvido tal disparate. E ele disse e cantarolou aquela música do Tom Jobim: são as águas de mar sulfechando o verão…
Convosco – A Bíbi da Pieve, quando rezava a Ave-Maria, achava que no parte o Senhor é convosco, convosco fosse algum adjetivo que ela não entendia. O que seria um senhor convosco? Um senhor bom, mau, um ricaço, um senhor filho-da-puta?
Tumitinha – Todo mundo conhece a música Ciranda-Cirandinha. A Adriana, uma amiga, me confessou que durante anos e anos, entendia um verso completamente diferente. Quando a letra fala o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou, ela achava que era o amor de Tumitinha era pouco e se acabou. Tumitinha era um menino, coitado. Ficava com dó do Tumitinha toda vez que cantava a música, porque o amor dele tinha se acabado. E mais, achava que o Tumitinha era um japonesinho. Devia se chamar, na verdade, Tumita. Quando ela descobriu que o Tumitinha não existia, sofreu muito. Faz análise até hoje.
Ventre Jesus – Aprendi a rezar a Ave-Maria ainda analfabeto, com três ou quatro anos. E sempre achei que Ventre era o primeiro nome do Homem, quando dizia do vosso Ventre Jesus. Aliás, achava um belo nome para Deus: Ventre Jesus!
Virundum – O Henfil, só depois de grandinho foi que descobriu que o Hino Nacional não se chamava O Virudum.